O meu percurso


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“Acredito que é na qualidade da relação que encontramos a base essencial para uma aprendizagem de sucesso.”

Concluí a Licenciatura em Professora do 1ºciclo – Ensino Básico e tive a sorte de poder começar logo a trabalhar. Os meus primeiros quatro anos foram passados no Colégio Eduardo Claparède, um colégio de Educação Especial, que (tenho hoje a certeza) moldou a minha personalidade e a minha forma de atuar profissionalmente. A pedagogia de João dos Santos é uma referência. A pedagogia pelo poder da relação criada com o outro demonstrou ser, sem sombra de dúvida, a chave para uma base de sucesso junto dos alunos e permitiu-me encontrar o caminho que queria seguir.

Logo no segundo ano de trabalho percebi que era fundamental aprofundar os meus conhecimentos nesta área e por isso fiz a Pós- graduação em Educação Especial no domínio cognitivo motor. O facto de já trabalhar na realidade das necessidades educativas especiais facilitou o percurso. Mais tarde concluí também a Pós-graduação em Metodologias e Técnicas Ativas e Expressivas por ter constatado a importância das terapias expressivas no desenvolvimento pessoal e social nos jovens com quem trabalhava. O simples ato de pintar expressivamente, modelar, criar algo possibilita organizar a mente, acalmar, encontrar um canal de comunicação quando a comunicação verbal é difícil.

Após estes quatro anos decidi mudar e quis experimentar outra realidade, com todos os riscos que uma mudança assume.

Escolhi a escola Vasco da Gama no Parque das Nações para trabalhar. Durante o percurso trabalhei individualmente com alunos referenciados para a Educação Especial integrados em turmas regulares através do processo de avaliação; construção de um programa educativo individual; acompanhamento pedagógico e reuniões periódicas para dotar os professores e família de instrumentos e formas de melhor poder responder às dificuldades dos alunos. Trabalhei com comprometimentos cognitivos; perturbações do desenvolvimento; perturbações do espetro do autismo (PEA); perturbações específicas da aprendizagem da leitura e da escrita. A excelente equipa onde sempre estive envolvida foi fundamental para discutir ideias, casos e refletir acerca das melhores soluções. O facto de trabalhar com alunos com perturbações da linguagem levou-me a investir na formação nesta área tendo tirado o Mestrado em Desenvolvimento e Perturbações da Linguagem na Criança numa parceria entre a faculdade de Ciências Sociais e Humanas e a Escola Superior de Saúde de Setúbal. Esta formação veio preencher lacunas existentes no domínio dos aspetos da linguagem permitindo ter ferramentas para melhor avaliar e intervir junto dos meus alunos. Esta tornou-se assim uma das minhas áreas prioritárias, pela enorme importância e impacto que tem no futuro educativo das crianças.

Após 8 anos de muito trabalho e de experiências diferentes vi-me pela primeira vez numa situação, infelizmente conhecida por muitos professores, nova para mim – sem colocação. Apesar de todos os esforços da escola e da vontade expressa de que eu continuasse o meu trabalho, o Ministério da Educação é sempre soberano.

Após o choque, não fiquei à espera. Saberia que com o decorrer do tempo seria colocada, mas não quis aguardar. Enviei currículos e passado um mês fui convidada para trabalhar como Técnica Superior de Ciências da Educação Local no Projeto PIEF (Programa de Integrado de Educação e Formação) da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa (SCML) com a função de coordenar e monitorizar um projeto para uma turma de adolescentes entre os 15 e 18 anos cujo objetivo é continuar o seu percurso escolar trabalhando num interface entre escola, família e trabalho social. Um mundo relativamente novo para mim, mas aceitei o desafio. Apesar de todas as dificuldades inerentes de trabalhar com adolescentes em risco, foi sem dúvida das melhores experiências que tive e das mais exigentes. Agradeço sempre a minha base, o Colégio Eduardo Claparède, pois foi o local de excelência para um primeiro contacto com adolescentes em risco e onde sei que ganhei as bases necessárias para melhor conduzir este projeto. Respeitar cada um dos alunos e nunca desistir fez o balanço ser muito positivo.

Ciente das dificuldades destes jovens em criar relações estruturantes e em refletir sobre o seu comportamento, quis participar num training day com o tema Teenagers – Angry, Anxious and Hunting: How to help them heal no Centre of Child Mental Health em Londres com o objetivo de aprofundar mais esta temática. Após este evento fui convidada para ser oradora no Instituto de Terapias Expressivas coordenado pelo Psicomotricista João Costa para abordar o tema: Adolescentes em risco: Compreender e Ajudar.

Após a conclusão deste projeto na SCML decidi continuar a desenvolver a área da minha tese de mestrado – Desenvolvimento linguístico – e inscrevi-me no doutoramento na área da Psicolinguística. Já conhecia a faculdade de Ciências Socias e Humanas e especialmente o meu professor de referência nesta área, o Professor Doutor João Costa (Linguista;  coordenador do departamento de Linguística e diretor da faculdade) que me motivou bastante para iniciar esta fase. No entanto fiquei colocada rapidamente na Unidade de Ensino Estruturado para Autismo na Escola Delfim Santos em Benfica e ao mesmo tempo a dar formação em Linguagem e Comunicação para adultos no Centro de Educação e Formação da SCML. Seria impossível conseguir dar resposta a tudo, especialmente pelo tempo e dedicação necessários nestas áreas. Decidi fazer uma pausa no doutoramento (nunca esquecido) e dedicar-me a estes dois projetos. Apesar de duas realidades diferentes, jovens com PEA (Perturbação do Espetro do Autismo) e formação de adultos, o trabalho na área da linguagem e comunicação era a base. Com objetivos diferentes mas sempre com o mesmo mote: Facilitar a comunicação. Foi um ano cheio. Cheio de vivências essenciais para continuar a definir-me enquanto profissional.

Este blog surge da vontade de partilhar o meu trabalho e uma visão da Educação. A minha visão.

2 comentários em “O meu percurso

  1. Gostei muito do seu mais recente post.
    “De cada vez que se falha na escola, abre-se mais uma cela na prisão”…
    O texto parece, à primeira vista, intuitivo.
    Só que me parece que ainda há gente com pouca intuição.
    O que não é de todo o seu caso.
    Os meus parabéns!

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